Pereiro era formado por três ou quatro ruas pequenas e tortuosas.
O cemitério da cidade estava localizado no final da rua de Cima, um pouco antes o matadouro público que ficava de frente para o nascente. Os urubus sobre os telhados vigiavam de olhos abertos os restos ali deixados. Era uma guerra aos sábados à tarde. A ruazinha se prolongava passando pela bodega da viúva (Maria do Carmo, mãe de Damiana Almeida), mais a frente a casa do oficial de justiça (Raimundo Alves, pai de Antônio Alves) e após três casas a do ourives, seu Zé Carlos. A Igreja Matriz, estrategicamente, dividia as duas ruas principais, a de Cima e a de Baixo. Era o marco divisório da sociedade pereirense (as pessoas ricas na parte de baixo e as outras na parte de cima). Nas proximidades da Igreja, do lado direito, morava Damião-Pé-Pé, encarregado de fazer as hóstias da Igreja. A praça da matriz ficava à esquerda, onde havia o coreto e do lado oposto a cadeia, nos altos, a antiga intendência (no local onde está a prefeitura), construída na ditadura Vargas.
Havia um beco ("de" Gerson, pai de Gessi) que ligava a praça à rua de trás, nela morava o barbeiro (Cícero Firmino) e o sargento Moreira. Ali quase em frente a casa de minha avó, ficava o motor que gerava a energia para cidade. Era uma máquina enorme e barulhenta, ficava meses e meses quebrado, graças a Deus!... bonito mesmo era o luar de setembro, as estrelas olhando para aquele mundo esquecido, era o mês festivo dos Padroeiros da cidade, Santos Comes e Damião.
Partindo da Intendência, no sentido nascente, existia uma pequena planície (Coculo, onde hoje é a praça da "Teleceará"), um pouco de casas de um lado e outro, e no centro, um campo de futebol, onde os meninos jogavam bola à tarde.
O comércio estava situado no final da rua de baixo com a rua de trás, num quadrilátero de calçadas altas e estreitas. Na segunda-feira, uma multidão de gente vindo de todos os cantos invadiam a cidade, eram feirantes que compravam e vendiam de um tudo. Os jogos de azar como roleta, cartas e caipira completavam aquele ambiente estático.
Assim era Pereiro do meu tempo, onde as borboletas se encontravam voando pelas ruas e os pés de figos acometidos da praga do Lacerdinha.
*TEXTO GENTILMENTE CEDIDO PELO SR. VALFRIDO
O cemitério da cidade estava localizado no final da rua de Cima, um pouco antes o matadouro público que ficava de frente para o nascente. Os urubus sobre os telhados vigiavam de olhos abertos os restos ali deixados. Era uma guerra aos sábados à tarde. A ruazinha se prolongava passando pela bodega da viúva (Maria do Carmo, mãe de Damiana Almeida), mais a frente a casa do oficial de justiça (Raimundo Alves, pai de Antônio Alves) e após três casas a do ourives, seu Zé Carlos. A Igreja Matriz, estrategicamente, dividia as duas ruas principais, a de Cima e a de Baixo. Era o marco divisório da sociedade pereirense (as pessoas ricas na parte de baixo e as outras na parte de cima). Nas proximidades da Igreja, do lado direito, morava Damião-Pé-Pé, encarregado de fazer as hóstias da Igreja. A praça da matriz ficava à esquerda, onde havia o coreto e do lado oposto a cadeia, nos altos, a antiga intendência (no local onde está a prefeitura), construída na ditadura Vargas.
Havia um beco ("de" Gerson, pai de Gessi) que ligava a praça à rua de trás, nela morava o barbeiro (Cícero Firmino) e o sargento Moreira. Ali quase em frente a casa de minha avó, ficava o motor que gerava a energia para cidade. Era uma máquina enorme e barulhenta, ficava meses e meses quebrado, graças a Deus!... bonito mesmo era o luar de setembro, as estrelas olhando para aquele mundo esquecido, era o mês festivo dos Padroeiros da cidade, Santos Comes e Damião.
Partindo da Intendência, no sentido nascente, existia uma pequena planície (Coculo, onde hoje é a praça da "Teleceará"), um pouco de casas de um lado e outro, e no centro, um campo de futebol, onde os meninos jogavam bola à tarde.
O comércio estava situado no final da rua de baixo com a rua de trás, num quadrilátero de calçadas altas e estreitas. Na segunda-feira, uma multidão de gente vindo de todos os cantos invadiam a cidade, eram feirantes que compravam e vendiam de um tudo. Os jogos de azar como roleta, cartas e caipira completavam aquele ambiente estático.
Assim era Pereiro do meu tempo, onde as borboletas se encontravam voando pelas ruas e os pés de figos acometidos da praga do Lacerdinha.
*TEXTO GENTILMENTE CEDIDO PELO SR. VALFRIDO
** GRIFOS ACRESCENTADOS, POR COLABORAÇÃO DE TIM CAVALCANTE.
12 comentários:
Parabéns Rilmar pela lembrança da
nossa cidade.
Lindo texto Rilmar.
É uma verdadeira viagem ao passado.
Um abraço, Neusinha
Belíssimo texto para conhecermos o nosso Pereiro. Adoro ler assuntos relacionado a nossa Terra. Parabéns a Rilmar e a Jobenemar. Um abraço, Marleide.
O sino da minha cidade
(Pereiro)
O sino da capela
da miha cidade
bate de felicidade.
Às vezes, repica,
repico triste inconfundível,
seguidamente, repica.
Depois de muito descobri
que o tempo na pequena
cidade não passou
e o velho sino da capela
ainda repica.
Longe de ti
meu coração repica de saudade.
(publicado no Jornal O Povo
11 de dezembro de 1994)
Que bela viajem ao passado.
Parabéns, são informações muito preciosas.
15 de março de 2009 17:03
...Uma vez uma história!
Tio Raimundo era um contador de história, nascido no início do século dezenove, jovem ainda tornara-se oficial de justiça. Caboclo forte e destemido, conhecido na região serrana de Pereiro.
Nos anos trinta do século passado quando revolução Getulista, ele fora guarda costa do interventor, doutor Humberto Queiroz, nascido na região de Quixadá, homem de grande conhecimento no campo da medicina.
À tardinha, Tio Raimundo sentava no degrau da porta da frente, cercado de uma platéia ávida por uma boa história. Ele contava, principalmente, os casos acontecidos em suas diligências como oficial de justiça. Suas histórias eram cercadas de misticismo e de crenças populares. Um homem que temia a Deus. A velha Bíblia sagrada em mão; e foi com ele que tive os primeiros conhecimentos do Velho Testamento. Lembro-me muito bem quando pronunciava a palavra parábola, esquecendo o acento. Era gostoso ouvi sua interpretação, de pureza e ingenuidade. Mas, há uma história que nunca esqueci e guardei na memória, foi um nos idos de vinte. Ainda vejo sua postura majestosa, pigarreava três ou quatro vezes, todos ficavam em silêncio.
- Muito de vocês não tinham ainda nascidos. No mês de fevereiro de 1927, às noites eram escuras. O silêncio era tão grande que dava medo. Primeiro, ouvi-se o latido do cachorro do compadre Oriel Amâncio, latidinho fraco de bicho medroso. Chico Pirrilica ao meu lado cochichava com outro menino.
- Essa história a mulher vira burra-de-padre? Além de traquino, era de um cinismo desmedido. Tio Raimundo fez ouvido de mercador. e prosseguiu.
- A noite era um breu e não se via nada. O bicho se arrastando pela rua e a cachorrada em perseguição até voltar novamente acalmaria.
Neste momento tia Maria chegara com uma caneca de café. Ele respirou fundo e sentiu o aroma do café e agradeço-lhe carinhosamente,chamando-a de nega. Ela paciente esperava que ele terminasse de tomar o café.
Retornou a história com maior suavidade – Em frente à Igreja Matriz os cachorros paravam de latir...
Criou-se um clima de suspense. Será uma alma penada?... ou o sacristão que vira lobisomem?...
Prosseguiu Tio Raimundo – Até que um dia, o doutor interventor me chamou na Intendência. E foi claro e enérgico, quero esse bicho vivo ou morte. Eram as ordens e eu tinha que cumprir. Retornei à casa apreensivo e Maria sentiu no meu semblante o ar de preocupação. Tentei contar o acontecido. Fui ao armário e tirei o velho bacamarte de papo amarelo, limpei e oleei, ficando novinho em folha. Fiz minhas orações e peguei a medalha de Nossa Senhora, coloquei no bolsinho do vintém, pedi-lhe que me protege nessa tarefa árdua.
A noite se aproximava com ar sinistro. Lá para meia noite, ouvi o canto do galo do compadre Bilico. Quando de repente o primeiro latido e, em seguida, outros latidos. Abri a porta e mandei Maria trancá-la por dentro. Desci a calçada e deixe o bicho se aproximar. Apontei o bacamarte no rumo daquela visagem e puxei o gatilho, para meu espanto bateu Catolé. Puxei do punhal que trazia à cintura e saltei sobre ele. Fique surpreso ao ouvir o voz do encapuzado. “ Não me mate pelo amor de Deus!”. Recuei e deixei-o passar. Vi bater na porta de dona T....., viúva fogosa que deu luz a uma menina meses depois.
- O que não se faz por um belo rabo de saia!
(UM HOMEM PARA SER LEMBRANDO. RAIMUNDO ALVES DE LIMA)
...Uma vez uma história!
Tio Raimundo era um contador de história, nascido no início do século dezenove, jovem ainda tornara-se oficial de justiça. Caboclo forte e destemido, conhecido na região serrana de Pereiro.
Nos anos trinta do século passado quando revolução Getulista, ele fora guarda costa do interventor, doutor Humberto Queiroz, nascido na região de Quixadá, homem de grande conhecimento no campo da medicina.
À tardinha, Tio Raimundo sentava no degrau da porta da frente, cercado de uma platéia ávida por uma boa história. Ele contava, principalmente, os casos acontecidos em suas diligências como oficial de justiça. Suas histórias eram cercadas de misticismo e de crenças populares. Um homem que temia a Deus. A velha Bíblia sagrada em mão; e foi com ele que tive os primeiros conhecimentos do Velho Testamento. Lembro-me muito bem quando pronunciava a palavra parábola, esquecendo o acento. Era gostoso ouvi sua interpretação, de pureza e ingenuidade. Mas, há uma história que nunca esqueci e guardei na memória, foi um nos idos de vinte. Ainda vejo sua postura majestosa, pigarreava três ou quatro vezes, todos ficavam em silêncio.
- Muito de vocês não tinham ainda nascidos. No mês de fevereiro de 1927, às noites eram escuras. O silêncio era tão grande que dava medo. Primeiro, ouvi-se o latido do cachorro do compadre Oriel Amâncio, latidinho fraco de bicho medroso. Chico Pirrilica ao meu lado cochichava com outro menino.
- Essa história a mulher vira burra-de-padre? Além de traquino, era de um cinismo desmedido. Tio Raimundo fez ouvido de mercador. e prosseguiu.
- A noite era um breu e não se via nada. O bicho se arrastando pela rua e a cachorrada em perseguição até voltar novamente acalmaria.
Neste momento tia Maria chegara com uma caneca de café. Ele respirou fundo e sentiu o aroma do café e agradeço-lhe carinhosamente,chamando-a de nega. Ela paciente esperava que ele terminasse de tomar o café.
Retornou a história com maior suavidade – Em frente à Igreja Matriz os cachorros paravam de latir...
Criou-se um clima de suspense. Será uma alma penada?... ou o sacristão que vira lobisomem?...
Prosseguiu Tio Raimundo – Até que um dia, o doutor interventor me chamou na Intendência. E foi claro e enérgico, quero esse bicho vivo ou morte. Eram as ordens e eu tinha que cumprir. Retornei à casa apreensivo e Maria sentiu no meu semblante o ar de preocupação. Tentei contar o acontecido. Fui ao armário e tirei o velho bacamarte de papo amarelo, limpei e oleei, ficando novinho em folha. Fiz minhas orações e peguei a medalha de Nossa Senhora, coloquei no bolsinho do vintém, pedi-lhe que me protege nessa tarefa árdua.
A noite se aproximava com ar sinistro. Lá para meia noite, ouvi o canto do galo do compadre Bilico. Quando de repente o primeiro latido e, em seguida, outros latidos. Abri a porta e mandei Maria trancá-la por dentro. Desci a calçada e deixe o bicho se aproximar. Apontei o bacamarte no rumo daquela visagem e puxei o gatilho, para meu espanto bateu Catolé. Puxei do punhal que trazia à cintura e saltei sobre ele. Fique surpreso ao ouvir o voz do encapuzado. “ Não me mate pelo amor de Deus!”. Recuei e deixei-o passar. Vi bater na porta de dona T....., viúva fogosa que deu luz a uma menina meses depois.
- O que não se faz por um belo rabo de saia!
(UM HOMEM PARA SER LEMBRANDO. RAIMUNDO ALVES DE LIMA)
tu tens a cor de ébano do pecado,
da miscigenação de todas raças,
és rainha, pelos súditos amada,
devotada dos ritmos e das crenças.
traz no sangue uma história de luta
na batalha dos teus antepassados
a tradição do povo resoluta
a glória da áfrica teu passado.
mulher mãe de todos, hoje presente,
o vermelho sangue da raça pura
corre nas veias de toda nossa gente.
abençoada, sejas tu em vida, amante
e amada pela angelical candura,
toda eternidade santificante.
Pereiro
Terra da minha terra,
teu campo minha última morada.
Te guardo saudade, mas não hei de chorar,
sou pó dos teus filhos.
Nasci para outras terras,
que um dia fugi,
no arroubo juvenil, no meu exílio,
os devaneios.
À procura de outros amores,
deixei o melhor dos meus anos,
sonhos fúteis e meus desenganos.
Não hei de te deixar como herança
meus dias sem glória.
Se não fui digno de pisar
na tua terra fértil:
Terra amada! ainda que tardia,
perdoa-me!
Abro os braços cansados,
te abraço e te beijo,
como um filho, ao colo da mãe,
choro e choro,..
Hoje estou a sonhar com Pereiro. Esta manhã faz-me recordar carinhosamente, as remotas eras, dos amigos mais sinceros, que fiz nos meus verdes anos. Pereiro, que nasceu para mundo, além dos seus limites, na cultura, nos esportes, do velho colégio Ovídio Diógenes,principalmente, da turma de 1968,Cosme mendes, Edeson Holanda,José Demes Diogenes,(ciciu) Antonio Romilton(tin tim)Dionisio Nunes e Rilmar; as meninas, Graça Desidério, Eudócia Gabriel,Celeste falcão, Celina mendes, Elane Pinheiro,Maria Eunice. Quero dizer-lhes com sou feliz por ter convivido nesta época, a todos minha sincera consideração. Se haja, que me esqueci de voce - minha querida CELMA Pinheiro - seria imperdoável da minha parte, voce foi especial.
Abraços a todos.
Há vários Pereiros. Por exemplo, o Pereiro de Humberto ( farmacêutico e prefeito), de pouca saudade.Pereiro do Padre Cabral, o educador, que bons frutos germinaram e outros não.Pereiro de João Terceiro, de Padre Higino, etecetera.
Onde estão as árvores da Praça Matriz?
Pereiro bonitinho e limpinho, mas de curvas duvidosas.
É desnecessário dizer da falta do "Sabão Pavão" e da água da "mutambeira" para limpeza da atual sujeira? Eita! que sujeira danada!
Antigamente, na semana santa queimavam-se os judas,hoJe queima-se a qualquer preço a CANABIS NATIVA. Lá vem o fumacê da dengue minha gente. Corra e corra sem parar, esconde o bagulho que o chefão está doidão, hoje ele capaz de tocar fogo na roupa e a nota de cem virar papilim.
-- vou ficando por aqui, estou igual a marinheiro de primeira viagem,...mariaaaado...
Obs: Na realidade estou de férias, resolvi matar o tempo e dá uma saraivada de alerta, o povo está de olhos abertos ou será que eu quis dizer, caraolho.
Joguei a gramática no lixo.
Considerações finais:Hoje é dia de espumante e de peru, que não sei se é sadio(a)? como dizem os jovens fuiiiiiiii...
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